Organizando a rotina do meu filho - do problema à solução (parte 1)

A “designer em ação” e as adaptações que realizei de forma offline para botar ordem na casa durante a quarentena.

Letícia Taminato
5 min readNov 11, 2020

Meu objetivo inicial aqui era de falar com mais detalhes sobre o meu projeto do app Timu, que se encontra no meu portfólio, o qual aproveitei para estudar e treinar meus aprendizados na área de UX/UI. Mas antes de falar do contexto digital, como designer UX que tenta pensar em soluções para melhorar as experiências dos usuários em diversos contextos, vou contar uma história que aconteceu antes de vir a parte digital, que é tão (ou até mais) rica quanto!

People vector created by pch.vector

Problema:

Contextualizando sobre a minha realidade: o ano é 2020, sou mãe de um menino de 11 anos que, por muito tempo, buscou uma forma de gerenciar a rotina dele de forma organizada e que o estimulasse a ser autônomo e responsável com suas atividades. O período da quarentena pela COVID-19 fez com que eu e meu filho ficássemos em casa juntos 24h, o que intensificou mais ainda as cobranças para que todos colaborassem com os afazeres da casa, além da adaptação que estávamos passando nos conciliando com a nova rotina de trabalho e estudos online. Me cansava muito todos os dias ter que cobrar “ Já fez a lição de casa? Já tomou banho? E a louça no escorredor? É importante isso, pois… - insira aqui uma lição de moral - ”. Meu filho sempre foi ótimo e dedicado, mas mesmo assim faltava-lhe maturidade e estímulos maiores que o fizesse cumprir com os seus afazeres do dia a dia.

Inspiração:

Criei então uma adaptação do sistema da Super Nanny (quem lembra deste programa?). Para quem não conhece, Cris Poli foi apresentadora do programa “Super Nanny” no SBT, além de ser pedagoga de longa data e escritora. Em seu programa e seus cursos, ela ensina muitos métodos para educação de crianças, mas pegarei apenas alguns dos quais servem de base para a ferramenta:

  1. Definir rotina: Assim ninguém fica perdido e ajuda a estruturar na cabeça da criança uma ideia de organização do tempo.
  2. As regras e atividades precisam estar claras para a criança: Afinal, é difícil seguir algo que ela nem entende bem o que é para ser feito, não é mesmo?
  3. Deixar essas tarefas e regras de forma bem acessível a criança: Uma dessas formas acessíveis, é explicar as regras de forma visual, muitas vezes as crianças tem esse lado imagético muito melhor treinado do que a parte verbal.
  4. Reconhecer o esforço da criança: Se ela cumprir bem com as tarefas durante a semana, além de elogios e aprovações mostrando que ela está seguindo o caminho corretamente, ela recebe um prêmio de reconhecimento a ser definido pela própria família.

Em cima desses conceitos, Cris Poli criou uma ferramenta que une tudo isso: um quadro de regras e deveres, onde há a lista de tarefas em forma de desenhos e um esquema de checklist. Eis um exemplo ilustrativo:

Imagem retirado da loja https://www.elo7.com.br/presenteperfeito

Testando a solução (com pequenas adaptações):

Pensando nesses conceitos, peguei um papel e, junto com meu filho, listamos quais seriam as atividades que ele precisaria cumprir no dia a dia. Discutimos as ideias e expliquei o que era esperado com cada item da lista, deixando as regras do jogo bem claras. Não gosto muito da ideia de definir horário para certas coisas, pois acredito que engessam a rotina (desculpa Super Nanny, essa parte não segui seu conselho) mas conseguimos criar minimamente uma rotina. 👏🏼

Pensamos em um sistema de pontos um pouco diferente da proposta da Cris, optei pela pontuação numérica. Ao final de cada dia revemos as tarefas cumpridas e não cumpridas, este é o momento onde eu o questiono sobre a forma como ele realizou as tarefas, e ele mesmo se pontua de acordo com o que achar de seu desempenho. Meu papel neste momento é apenas de faze-lo refletir, analisar sua execução e suas dificuldades. Claro, se ele tentar mentir e dizer que fez a tarefa, sendo que não o fez, também estou de olho 👀 Mas desta forma, ele está criando autonomia e senso crítico (tudo de forma saudável, claro).

Por fim, o prêmio escolhido por ele como forma de recompensa pelo esforço na semana, foi poder jogar games no computador o tempo que quisesse (sem deixar de cumprir com as tarefas do finds), já que os games aqui em casa são regulados por tempo no meio da semana. Topei o prêmio, e realmente está servindo de grande estímulo para ele :)

Para facilitar a visualização desse sistema, deixei no mural de casa as regras em forma de planilha com uma legenda do esquema de pontos, eis o resultado:

Ainda pensando no conceito de facilitação da visualização dos pontos, criamos juntos um gráfico onde insiro as pontuações diárias. Desta forma é fácil quantificar e avaliar cada dia, sem criar intrigas do tipo “Não foi justo, me esforcei pra caramba”, afinal os números não mentem:

Obs1: Os nomes desses status definimos juntos hehe / Obs2: Essa semana aí foi boa! Ele conseguiu o prêmio :D

Resultados:

Após várias semanas utilizando este método, já pude notar mudanças enormes:

  1. Não preciso mais ficar cobrando dele a realização das tarefas, isso ocorre pouquíssimas vezes, pois agora ele mesmo verifica o que ainda está pendente.
  2. Como já comentado anteriormente, o prêmio que ele recebe no final de semana serve muito como estimulante.
  3. Já aconteceu de ele não receber o prêmio, ele se sentiu frustrado, mas compreendeu super bem os motivos, pois depois avaliamos a listinha e detectamos quais foram as tarefas em que ele teve um desempenho inferior. E é muito importante reforçar aqui: Sempre explique para a criança que tudo isso é para cooperar com o crescimento pessoal dela, e que essa ferramenta ajuda a detectarmos pontos de melhoria. Explique que não ganhar o prêmio não é sinal de que ele tem sido uma criança ruim, somente não rolou tão bem aquela semana e é super normal, ele está aprendendo.
  4. Ele aprendeu a negociar: “Mãe, eu gostaria de me concentrar na atividade Y, posso não realizar a atividade X? Daí não ganho nenhum ponto na atividade X, mas pelo menos ganho mais pontos no Y, o que acha?”
  5. Agora ele consegue me contar com mais clareza as dificuldades que está tendo para realizar as tarefas, assim posso instruí-lo melhor.

Várias conclusões e aprendizados muito interessantes! 🤩

Gosto de imaginar a figura do pai/mãe/responsável como o de mentores, que ensinam várias coisas e preparam as crias para serem do mundo, sem tirar sua autenticidade. Creio que eu esteja caminhando bem, não de forma perfeita, mas fazendo o meu melhor com a pessoa que sou hoje.

Vale lembrar que essa história ainda não acabou, pois ainda quero falar do aperfeiçoamento da ferramenta para a versão digital, mas isso ficará para um próximo post :)

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Letícia Taminato

UX UI Designer que está se redescobrindo a todo momento